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A ARTE DA CONVERSA

A ARTE DA CONVERSA

A Arte da Conversa - Priscila Diacov

"No conversar construímos nossa realidade com o outro. 
Não é uma coisa abstrata. O conversar é um modo particular de viver junto em coordenação do fazer e emocionar.
Por isso o conversar é construtor de realidades." (Humberto Maturana)

Vivemos tempos de hostilidade nas relações, conversas tensas, "haters", comunicação violenta, feminicídio. É possível expressar idéias e opiniões divergentes sem abrir mão dos relacionamentos? Romper ou dialogar? Como conviver em tempos de intolerância?

Viver é conviver. Somos uma espécie plural. Nossa convivência acontece entre diversos. Como espécie humana, a nossa força está no conjunto. Penso que a nossa "serhumanidade" nos permite criar formas de co-existência que vão além da sobrevivência. Cuidar das diferenças é condição necessária para a vida coletiva.

"A sociedade precisa do conflito, não do confronto" (Mário Sérgio Cortella). A grande questão é como fazemos isso.

Conviver é conversar. Mediar relações é cuidar dos conflitos e das divergências promovendo conversas seguras sobre o que precisamos, queremos, desejamos, sonhamos.

No entanto, muitas conversas se tornam verdadeiros campos de batalha cujo objetivo é vencer o adversário. Quem está dialogando comigo é um oponente a ser combatido. Aqui o diálogo se transforma em violenta disputa gerando distanciamento, ruptura e dor.

Aprender a conversar é essencial à nossa convivência. Acredito na comunicação humana como o ambiente em que nos constituímos e co-existimos.

Ser um pacificador é mediar relações para convivência através das conversas que construímos juntos. Grande parte do métodos consensuais de resolução de conflitos são diálogos. É através do diálogo q construímos acordos e consensos.

O que são boas conversas ou conversas para convivência?

São conversas seguras, encontro e interação entre mundos, forma de cuidar de si e do outro, "comunhão pelo falar". Escolher o diálogo ao invés do confronto é escolher a conexão humana. É uma postura de não-violência diante da vida, um jeito de estar e atuar no mundo.

Para isso, é necessário escutar de forma ativa e atenta o meu interlocutor. É a escuta que valida a fala de quem está em diálogo comigo. Aqui é importante escutar até o final, sem interromper, sem concordar ou discordar de imediato.

Observo na mediação que grande parte das divergências tem origem na comunicação. É o caso de muitos mal-entendidos e interpretações equivocadas. Na maioria das vezes, o conflito não está no problema, mas na "forma" como enxergamos o problema. Escutar para entender as inquietações e necessidades do meu interlocutor é parte do cuidado e encaminhamento do conflito.

Cada vez mais precisamos aprender a divergir. Não vejo outro caminho senão pelo diálogo. Diálogo é construção, é algo q fazemos juntos. Nesse sentido, somos todos aprendizes do amor. A comunicação humana é uma habilidade a ser aprendida com ferramentas, posturas e recursos que nos ajudam a construir formas pacíficas de convivência.

Diante de um conflito, escute de forma atenta, faça perguntas para investigar a história do conflito, transforme os contratos implícitos em verbais, acolha as duas histórias e não uma "ou" outra, busque o ponto comum ao invés do ponto igual e procure pensar como um mediador buscando integrar os elementos do conflito.

Na arte da conversa, o acordo é consequência. O diálogo é o acontecimento. A conexão humana é o sentido.

"Em tempos de hostilidade precisamos cultivar a arte da conversa. A unidade não exige uniformidade; a diversidade não resulta separação; a divergência não implica ruptura. Conversando, quem sabe, a gente se entende." (Ed René Kivitz).